Humberto Grimaldo: Universidades têm que ser campos de transformação do conhecimento

Publicado el 10 DE JUNIO, 2018

“Universidades têm que ser campos de transformação do conhecimento”

Pesquisador Humberto Grimaldo defende que instituições cumpram a responsabilidade social de diminuir desigualdades e melhorar condições de vida de população vulnerável

Marcílio Lana / O coordenador do eixo temático “Educação superior face aos desafios sociais da América Latina e Caribe” da III Conferência Regional da Educação Superior (CRES 2018) e coordenador geral do Observatório Regional de Responsabilidade Social para América Latina e Caribe (ORSALC), Humberto Grimaldo, defende que as universidades têm que constituir um espaço de acesso e permanência para o estudante, além de terem um papel fundamental na reconstrução das comunidades vulneráveis.

Quais vão ser as discussões do eixo temático “Educação superior face aos desafios sociais da América Latina e Caribe”?

Um dos principais desafios sociais é que a universidade tem que se comprometer com as comunidades vulneráveis, seja vulnerabilidade nutricional, habitacional ou de inclusão científica. Universidade sem isso tende à inércia. Universidades têm que ser campos de transformação do conhecimento.

No Brasil, criou-se o imaginário que faz uma relação direta entre o acesso ao ensino superior e a melhoria direta na qualidade de vida do indivíduo. Essa relação é real existe esse imaginário em outros países da região?

A responsabilidade social não pode adquirir matizes cosméticas, tem que ser um compromisso que traduz a universidade. Estamos diante dos direitos e deveres humanos. Temos que ser completamente radicais na cobrança dos nossos direitos, mas só cumprimos nossos deveres quando outros cumprem. No Brasil, as universidades não podem se comprometer só com o acesso à educação superior, mas também com a permanência e regresso para a comunidade de origem do estudante. É necessário que o aluno saia transformando seu território, melhorando as comunidades vulneráveis.

Hoje qual tem sido o papel das instituições de ensino superior na diminuição das desigualdades socioeconômicas da região?

Acredito que a educação superior tenha o papel de converter as vulnerabilidades em estudos e, a partir daí, transformar as comunidades e territórios. A verdadeira responsabilidade é tratar esses seres das comunidades vulneráveis como seres humanos, como sujeitos de direito. As comunidades não podem ser apenas indicadores. Elas têm que ser transformadas, re-humanizadas.

A CRES 2008 estabeleceu que as Instituições de Ensino Superior têm a responsabilidade de promover a compreensão de questões com as dimensões sociais, econômicas, científicas e culturais, bem como a capacidade de lidar, para que deve assumir a liderança social criação de conhecimento, estimulando o pensamento crítico e a cidadania ativa para enfrentar os desafios associados à desigualdade, exploração do planeta e compreensão humana. Depois de 10 anos, que tipo de ação as instituições têm desenvolvido?

O grande trunfo da CRES 2008 foi tratar a educação como um direito humano fundamental que deve ser garantido pelo Estado. Na CRES 2018 temos que aprofundar essa questão. Estamos à frente de uma reorganização exigida pelos objetivos de desenvolvimento sustentável previstos pela UNESCO. É nisso que a universidade tem que se preocupar. Como a universidade trabalha em relação às mudanças climáticas e ao consumo responsável, por exemplo.

No Brasil, a Lei de Cotas estabeleceu reserva de vagas de no mínino cinqüenta por cento para estudantes negros, provenientes de escolas públicas e de baixa renda. Como o senhor avalia essa política?

O mais importante de todas as políticas públicas é que elas beneficiem a maior parte das pessoas, mas precisam ser avaliadas e revistas permanentemente, não podem ser exercícios frios. Têm que ir se transformando de acordo com as exigências da população. Claro que a Lei de Cotas, no Brasil, é um avanço. Também há modelos muito interesses em Trindad e Tobago e Jamaica para inclusão da população afrodecendente no ensino superior. Vamos ressaltar que a importância da interculturalidade, que é um tema inédito na CRES, veiculado à diversidade cultural. Temos que contemplar também a população indígena. E precisamos de universidades também na periferia, lugares mais afastados dos grandes centros e que estão à margem da ciência tecnologia e conhecimento.

Que tipo de política pública e institucional deve ser desenvolvida?

A principal política que deve ser desenvolvida é o estudo dos territórios. Uma política pública tem que ser territorial, de acordo com a necessidade com o território. Num país tão grande, como o Brasil, os territórios têm que ser repartidos. O Amazonas é diferente do Rio Grande do Sul, por exemplo, e por isso devem existir políticas específicas para cada região.

Declaración final